José Crisóstomo de Souza
Em termos de correntes filosóficas, são referências para a Poética Pragmática o pós-hegelianismo e o pragmatismo, representantes seus como Stirner, Feuerbach e Marx, Dewey e James, Habermas e Rorty, e eventualmente outros autores postos em diálogo com essa dupla referência. São ambas vertentes de pensamento que convergem no afastamento da pretensão de atemporalidade para a filosofia, por assumirem a Modernidade como seu contexto e por fazerem dela própria objeto de sua consideração. São correntes que expressam uma demanda de concretude e Diesseitigkeit (citerioridade), procurando assumir o humano finito e prático, em seu caráter sensível, como referência para a crítica do racionalismo abstrato e para seus próprios posicionamentos positivos. Pedra de toque da Poética Pragmática é a centralidade atribuída à noção de prática como poiésis, como produção e criação, de alcance material, ético, estético, pessoal e político. São também elementos dessa perspectiva prática tanto um viés "crítico", como um viés "construtivo", comprometido com a ideia de democracia como forma de vida, seja pelo lado do "destino comum" dos homens, seja pelo do auto-cultivo e auto-criação pessoais. Podem ser considerados textos-marcos, programáticos, dessas preocupações, criticamente tomados, as "Teses ad Feuerbach", de Marx, como plataforma pragmatista aberta, O Discurso Filosófico da Modernidade, de Habermas, como crítica da razão centrada no sujeito, e os posicionamentos neo-pragmatistas, de alcance deflacionista e matiz nietzschiano, de Richard Rorty. E ainda, num outro plano, os posicionamentos de Porchat e Tugendhat, e meus própios, na linha de uma "filosofia civil", no A Filosofia entre Nós. Um apresentação condensada de minha abordagem dessas referências está nas páginns da homepage www.jcrisostomodesouza.ufba.br.
sábado, 31 de julho de 2010
Nietzsche como Hiperbólico Jovem Hegeliano - resumo
José Crisóstomo de Souza
Nietzsche, pensador tipicamente confinado nos horizontes do pensamento alemão do século XIX, emoldura seu romantismo aristocrático-heróico, raivosamente anti-moderno, com uma narrativa histórico-dialética exemplarmente hegeliana - mais especificamente, jovem hegeliana – a seu serviço. Aparentemente é a ela, junto com seu delirante biologismo romântico-vitalista, também típico do século XIX, que ele recorre para autorizar o caráter radicalíssimo, inflado, retumbante, ultra-epocal, que deseja atribuir aos seus insights (alguns muito interessantes); para coroar-se como o Anti-Cristo lui-même, o Primeiro Imoralista, o incontrastado “Bad Boy” da filosofia ocidental - perfil de que, entretanto, dedicados comentadores apologéticos querem inadvertidamente privá-lo. É aparentemente sua narrativa histórica teológico-apocalíptica que sustenta o tom normativo irado de sua filosofia abertamente racista-escravocrata, junto com as empobrecedoras distinções binárias que marcam o conjunto de seu pensamento. É com a ajuda daquela narrativa (e de um ‘cientificismo’ risível) que Nietzsche deforma metafísica e teologicamente a oportunidade de renovação que se oferece ao pensamento europeu depois do colapso da metafísica e da teologia; oportunidade cuja realização havia-se esboçado precursoramente em perfis mais desinflados, de autores como Rabelais, Voltaire e La Rochefoucauld (para tomar ao pé da letra seu cumprimento aos franceses), além de em jovens hegelianos menos exaltados do que ele. O que marca mais do que jovem-hegelianamente sua narrativa histórica fundacionista é essencialmente a idéia de um “Erro” epocal inicial (o Ideal Ascético), caracterizado como Grande Inversão/Negação (da “Vida”), confrontado então por sua Crítica Absoluta, esta como uma igualmente epocal Negação da Negação, ou Inversão da Inversão. E é também, antes dessa Ausgang, o desenvolvimento do “Grande Mal”, num percurso lógico-dialético, imanente, necessário, tomado como uma escalada, que desemboca então naquilo que já se encontrava desde sempre, “em germe”, na própria Crença original: seu aparente contrário, o Niilismo, agora explícito. A marca jovem-hegeliana de Nietzsche está ainda na idéia do seu próprio tempo (a Modernidade do séc. XIX) como de agudização do Ascetismo e precipitação do Niilismo (enganosamente disfarçadas de superação), na direção de uma Crise/Hecatombe sem precedentes sobre a Terra, um Juízo Final como véspera do “Reino” dos valores transvalorizados. Embora referida a outra figura que não exatamente a do sujeito clássico, até mesmo a tópica, recorrente no jovem hegelianismo, da alienação/hipostasiação de uma criação dos homens (no caso, os valores), e da sucessiva reapropriação, por eles, de sua autoria (com conseqüências hiper-revolucionárias), encontra em Nietzsche uma de suas características versões. A sua é, então, mais uma “filosofia do futuro”, antecipado como passado; é um pensamento aparentemente em maus termos com o devir e com a finitude. Que coloca a si mesmo e ao seu tempo, alas, como um absoluto e especialíssimo divisor de águas da “História”, e põe a própria existência finita, individual, de Nietzsche, como “Destino”, como destino histórico-universal, sobre-humano, gargalo de uma ampulheta pela qual devem obrigatoriamente passar as vastas areias do tempo. A inversão, a inversão da inversão, a lógica determinante do desenvolvimento histórico por vir, permitem a Nietzsche, mais do que hegelianamente, como weltregierender Geist, adivinhar o futuro e narrá-lo como passado (!), dominado pelo movimento dialético da Potência Objetiva da História. Hegel e seu Espírito Absoluto não pretenderam tanto.
Nietzsche, pensador tipicamente confinado nos horizontes do pensamento alemão do século XIX, emoldura seu romantismo aristocrático-heróico, raivosamente anti-moderno, com uma narrativa histórico-dialética exemplarmente hegeliana - mais especificamente, jovem hegeliana – a seu serviço. Aparentemente é a ela, junto com seu delirante biologismo romântico-vitalista, também típico do século XIX, que ele recorre para autorizar o caráter radicalíssimo, inflado, retumbante, ultra-epocal, que deseja atribuir aos seus insights (alguns muito interessantes); para coroar-se como o Anti-Cristo lui-même, o Primeiro Imoralista, o incontrastado “Bad Boy” da filosofia ocidental - perfil de que, entretanto, dedicados comentadores apologéticos querem inadvertidamente privá-lo. É aparentemente sua narrativa histórica teológico-apocalíptica que sustenta o tom normativo irado de sua filosofia abertamente racista-escravocrata, junto com as empobrecedoras distinções binárias que marcam o conjunto de seu pensamento. É com a ajuda daquela narrativa (e de um ‘cientificismo’ risível) que Nietzsche deforma metafísica e teologicamente a oportunidade de renovação que se oferece ao pensamento europeu depois do colapso da metafísica e da teologia; oportunidade cuja realização havia-se esboçado precursoramente em perfis mais desinflados, de autores como Rabelais, Voltaire e La Rochefoucauld (para tomar ao pé da letra seu cumprimento aos franceses), além de em jovens hegelianos menos exaltados do que ele. O que marca mais do que jovem-hegelianamente sua narrativa histórica fundacionista é essencialmente a idéia de um “Erro” epocal inicial (o Ideal Ascético), caracterizado como Grande Inversão/Negação (da “Vida”), confrontado então por sua Crítica Absoluta, esta como uma igualmente epocal Negação da Negação, ou Inversão da Inversão. E é também, antes dessa Ausgang, o desenvolvimento do “Grande Mal”, num percurso lógico-dialético, imanente, necessário, tomado como uma escalada, que desemboca então naquilo que já se encontrava desde sempre, “em germe”, na própria Crença original: seu aparente contrário, o Niilismo, agora explícito. A marca jovem-hegeliana de Nietzsche está ainda na idéia do seu próprio tempo (a Modernidade do séc. XIX) como de agudização do Ascetismo e precipitação do Niilismo (enganosamente disfarçadas de superação), na direção de uma Crise/Hecatombe sem precedentes sobre a Terra, um Juízo Final como véspera do “Reino” dos valores transvalorizados. Embora referida a outra figura que não exatamente a do sujeito clássico, até mesmo a tópica, recorrente no jovem hegelianismo, da alienação/hipostasiação de uma criação dos homens (no caso, os valores), e da sucessiva reapropriação, por eles, de sua autoria (com conseqüências hiper-revolucionárias), encontra em Nietzsche uma de suas características versões. A sua é, então, mais uma “filosofia do futuro”, antecipado como passado; é um pensamento aparentemente em maus termos com o devir e com a finitude. Que coloca a si mesmo e ao seu tempo, alas, como um absoluto e especialíssimo divisor de águas da “História”, e põe a própria existência finita, individual, de Nietzsche, como “Destino”, como destino histórico-universal, sobre-humano, gargalo de uma ampulheta pela qual devem obrigatoriamente passar as vastas areias do tempo. A inversão, a inversão da inversão, a lógica determinante do desenvolvimento histórico por vir, permitem a Nietzsche, mais do que hegelianamente, como weltregierender Geist, adivinhar o futuro e narrá-lo como passado (!), dominado pelo movimento dialético da Potência Objetiva da História. Hegel e seu Espírito Absoluto não pretenderam tanto.
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APRESENTAÇÃO:
1) Este blog vai incluir alguns textos breves, RESUMOS, coisas que complementam as chamadas "jornalísticas" da minha homepage, sobre outras obras, autores e temas, e que indicam o desenvolvimento de meus novos trabalhos e posições.
2) E vai incluir também outros textos breves, ANOTAÇÕES, onde apresento alguns aspectos do que ando esboçando como POÉTICA PRAGMÁTICA.
1) Este blog vai incluir alguns textos breves, RESUMOS, coisas que complementam as chamadas "jornalísticas" da minha homepage, sobre outras obras, autores e temas, e que indicam o desenvolvimento de meus novos trabalhos e posições.
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